Por Larissa Costa e Elane Abreu

O Afrofuturismo é um movimento que envolve um futuro ligado aos elementos de ficção científica e fantasia, conectado a narrativas de protagonismo negro em forma de manifestações nos campos do cinema, da fotografia, da moda, da música e das artes em geral. Já o Afropessimismo pode ser considerado um movimento complementar ao Afrofuturismo, ligado a um futuro negro que sedimenta cicatrizes e violência do passado. 

O Limbo trouxe a discussão do texto “O futuro será negro ou não será: Afrofuturismo versus Afropessimismo – as distopias do presente”, de Kênia Freitas e José Messias, por onde se pôde debater questões da negritude no tempo atual e pensá-las de acordo com as bases encontradas no texto.

Com o objetivo de estimular ainda mais a discussão do protagonismo negro, no dia 5 de outubro, em grupo, vimos “Chico” (2015), de Eduardo Carvalho e Marcos Carvalho, e “O Último Anjo da História” (1996), de John Akomfrah; duas obras que apresentam afrofuturismo e afropessimismo com maestria e de forma direta.

O primeiro exibido, “O Último Anjo da História”, retrata a união entre ficção e documentário. O filme, narrado pelo personagem Ladrão de Dados, é a escavação de vestígios da história negra dentro da ficção e aborda a ideia de que o negro e seus conceitos são frutos de um planeta chamado Sun Ra, e, para manifestar tal ponto de vista, são trazidos escritores, críticos e músicos negros com falas a esse respeito. 

Já a obra “Chico” se passa num tempo futuro, mais especificamente em 2029. Com tons quentes e tela escura, passa a percepção para o espectador de um enredo intenso. O filme começa com o nascimento do Chico, uma criança de origem pobre, negra e residente de uma favela brasileira. Após isso, tem-se um pulo no tempo-espaço do enredo para o aniversário de 10 anos de Chico, tempo em que é aprovada uma lei que determina a prisão de menores de idade como potenciais praticantes de crimes.

É dessa forma que o filme procura mostrar a separação entre Chico e sua mãe, Nazaré, personagem de comportamento duro com o filho. Ao mesmo tempo vemos uma crítica social aos dias de hoje. Talvez seja por isso que a obra seja considerada tensa e angustiante, já que se passa num futuro em que práticas violentas ainda se dão e de forma atualizada e inescapável, como podemos entender via afropessimismo. Apesar disso, há imaginação e fantasia nas cenas escuras do filme, em que mãe e filho protagonizam o voo de uma “pipa humana” cuja estrutura é o corpo de Chico. 

Enquanto no filme de Akomfrah temos a oportunidade de um voo temporal afrofuturista, através de imagens de diversos momentos da história e de falas de pessoas negras possibilitadas pela pesquisa do Ladrão de dados que está no futuro; o filme de Eduardo e Marcos Carvalho nos projeta em 2029 carregados de um pesar pelo sofrimento negro que permanece, e nos lançando em sensações ao mesmo tempo tensas e poéticas, como a pipa com o peso de Chico, que voa ainda ancorado.