Por Gyselle Soares

O filme nacional “Marte um”, produzido e dirigido por Gabriel Martins e lançado em 2022, é uma obra do gênero drama que ganhou aprovação do público pela originalidade. O filme introduziu ao público uma narrativa envolvente que retrata as dificuldades enfrentadas por uma família de pessoas negras em um país que acabou de eleger para presidente um homem de extrema-direita, enfatizando questões familiares internas, como sexualidade, sonhos e traumas.

Uma das características mais marcantes de “Marte um” é sua abordagem repleta de naturalidade. O filme trouxe a narrativa do que seria o esteriótipo da família brasileira, a vontade do pai de ter um filho jogador, o receio da filha em assumir um namoro homoafetivo e a garra da mãe em querer sempre o melhor para sua família, e por isso muitas vezes acaba deixando de lado suas próprias questões. Deivinho, filho mais novo do casal, tem o sonho de tornar-se astrofísico e colonizar Marte, mas tentando agradar o pai, segue seu sonho de que o filho seja jogador de futebol.

Enquanto isso, Eunice, filha mais velha, namora uma menina e comunica aos pais seu desejo de sair de casa. Isso gera questionamentos e inicia um processo de aceitação dos pais em relação à sexualidade da garota. No decorrer do filme, Eunice leva sua namorada para conhecer sua família, em meio a um jogo de futebol. Todos parecem estar desconfortáveis, mas as peças se encaixam no momento que a garota tem um contato mais íntimo com Eunice, tocando sua mão.

Acredito que, para os pais, este tenha sido o momento que mostrou que a relação das garotas não era só de amizade, mas, sim, de namoro, o que causou neles estranheza e espanto. A partir disso, o namoro das meninas foi de fato oficializado, passaram a morar juntas e viver o amor que muitas vezes é silenciado na nossa sociedade. Para Eunice, a aprovação dos pais sempre foi muito importante e sua relação com seu pai melhorou a partir do momento em que ele o aceitou, afirmando que a filha era muito mais parecida com ele do que ela imaginava.

O longa-metragem oferece uma visão cotidiana do que seria a vida de uma família de classe baixa no Brasil, e a crise financeira que aumenta cada vez mais após a ascensão da extrema-direita no país. O cenário visual, o roteiro e o elenco do filme são impecáveis e, no decorrer da trama, trouxe a mim a sensação de viver tudo aquilo. Através de gravações e músicas escolhidas, gera no espectador o sentimento de intimidade e toca no íntimo das pessoas que vivem situações parecidas no dia a dia.

“Marte um” é mais que um filme indicado para representar o Brasil no Oscar, é uma obra que mergulha na originalidade e na crítica social. Ao explorar temas pertinentes e críticos, o filme torna-se relevante e provocativo, oferecendo uma perspectiva impactante sobre as dificuldades enfrentadas pela classe trabalhadora em nossa sociedade e, assim, permanece uma obra que continua a inspirar e intrigar o público à medida em que exploramos temas sociais e políticos.