Há testemunhos só possíveis de virem à tona pela oralidade. Essa foi uma das constataçãos a que a pesquisa de Kelsma Gomes chegou. Agora mestra em Comunicação, ela pôde partilhar no Limbo como se deu a conclusão de um trabalho realizado a várias mãos e vozes. Essas vozes foram das remanescentes do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, que relataram suas memórias da comunidade. Já as mãos foram dela – a pesquisadora -, de integrantes do Limbo e de artesãos/artistas que fizeram a xilogravura e o grafite, produto final da pesquisa, que ocupa a parede do bloco G na UFCA.
Ouvidos atentos e mãos ativas. Depois de incorporar as fortes imagens vindas dos relatos orais, buscou-se expressar as principais representações em rabiscos. Elane, Joedson, Thamyres e Thaís eram as mãos das memórias que foram parar no papel em forma de desenhos e algumas palavras. Daqueles rascunhos, os principais elementos iconográficos foram conduzidos à madeira do seu Abraão Batista, que esculpiu a matriz da xilogravura pelo respeito que tinha à história do Caldeirão. A maestria do xilógrafo fez das visualidades rabiscadas uma obra cheia de decalques geométricos, bem afeitos ao que se pode associar a labaredas e faíscas. Eram as memórias do Caldeirão ganhando entalhes estético-discursivos.
Da xilogravura, uma nova linguagem se fez corpo na parede. Foram os grafiteiros Fabiano Dias, Pacato Dias e Adriano Barros que transpuseram a proposta de seu Abraão para o concreto de 7,35m de altura. O grafite é o produto final da dissertação de Kelsma Gomes, exibindo traços e memórias das diferentes materialidades e mentalidades que participaram do processo. A tinta preta ora em spray, ora em pincel, imprimiu no grafite a singularidade da xilogravura ao passo que deixou traços do esfumado ao estilo do grafite. Concretizou-se ali um híbrido de linguagens, um grafite-xilo de forte impacto visual.
O produto da pesquisa, curiosamente, fez com que fossem reivindicados distintos pertencimentos. A quem pertence a obra? Às remanescentes? Ao Seu Abraão? Aos grafiteiros? Ao Cariri? As postagens nas redes sociais fizeram com que o processo de pintura no campus de Juazeiro do Norte fosse externado em outros ambientes, compartilhando a satisfação de paredes não-brancas na Universidade. Outra comunicação assim se instaurou em torno da obra, que, ao final, tounou-se pública, de pertencimento comum. Eis então um forte exemplo de histórias desdobradas pelo coletivo, uma exeperiência “transmidiática” que pousou na parede.
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