Por Acácio Morais e Jocilane Silva

Em mais um ano, o célebre XII Congresso Internacional Artefatos da Cultura Negra trouxe discussões pertinentes para o olhar acadêmico. Com a temática “Democracia racial, ações afirmativas e educação: dos movimentos de luta antirracista à universidade pública”, o evento oferece plataformas de debates sobre questões raciais e a nossa atual conjuntura social. Ainda no formato virtual, a programação contou com mesas redondas, rodas de conversa, feiras, atividades culturais, exposições artísticas e lançamento de livros.

Durante a noite de quinta-feira (23), o Limbo esteve presente por meio da representação da líder do grupo de pesquisa, a professora Elane Abreu (UFCA), que mediou a mesa com as palestrantes Marcela Bonfim (Rondônia), Vilma Neres (Bahia) e o palestrante Daniel Meirinho (UFRN). A mesa discutiu olhares afrodiaspóricos na fotografia, incluindo perspectivas intelectuais e práticas artísticas de seus componentes.

O debate com os palestrantes iniciou com uma provocação da mediadora: “o que seria a fotografia preta?”. Para a fotógrafa Marcela Bonfim, a fotografia é algo que está dentro da nossa imagem e fora da nossa imagem, é o que pensam sobre nós e pensam da gente. Além da imagem, ela é a própria imaginação, é uma autorrepresentação, ela é vital. Para Vilma, a fotografia preta é uma postura política de reivindicar esses espaços para que as presenças pretas  sejam de fato visíveis, tanto construindo como também propondo outras construções possíveis a respeito da representatividade do corpo das pessoas negras e das próprias narrativas. Daniel Meirinho diz que é a tentativa de escrever o corpo, que o fotógrafo negro tem de reordenar essa estrutura e que se deve ter o cuidado de não tachar o preto na fotografia e não limitar a apenas uma ótica e a um assunto, para não cercear a diveridade de fotógrafos negros que existem no Brasil.

Ao final das apresentações, os palestrantes apresentaram seus atuais projetos dentro do universo da fotografia. Daniel Meirinho (UFRN) expôs sobre seu projeto de pesquisa intitulado “Olhos Negros” que ainda está em andamento. A ideia desse projeto é mapear os fotógrafos/as/es negros que atuam no Brasil contemporâneo. Vilma Neres (Bahia) falou sobre seu trabalho “A escrita com a luz das fotoescrevivências” que reúne trajetórias e narrativas visuais de cinco fotógrafas e de dois fotógrafos, dentre eles Januário Garcia (in memoriam). Marcela Bonfim falou sobre seu projeto “Amazônia Negra” e “Madeira de Dentro. Madeira de Fora”. Para ela a imagem é uma conquista e seu trabalho não teve o caminho da pesquisa nem de estudo, foi de vida como forma de se humanizar.

A fotografia é algo que está dentro e fora da nossa imagem. A fotografia preta é, inclusive, o que pensam de nós, e, sobretudo, o que a gente pensa da gente. Pensamentos também são imagens. Quando se pensa no negro, toda negatividade vêm em conjunto, assujeitando corpos e suas liberdades. Essas imaginações podem ser modificadas por trás das câmeras, por meio da ressignificação, da autorrepresentação, comenta Marcela Bonfim. 

Para os pensadores Gomes e Pereira (2018), a fotografia sempre foi um exercício de olhar e capturar a imagem do “Outro”. A branquitude, como detentora de poder, nos coloca sob a forma de um aparato estético no qual, automaticamente, nos marginaliza. A fotografia preta, por outro lado, é ressaltada a todo instante, pelos pensadores e artistas acima, como uma potência não só criativa, ou visual, mas de olhar. A lente fotográfica preta registra momentos e formas de vida como possibilidade de contar e recontar histórias, para além dos estereótipos. A fotografia preta, portanto, é uma potência, visual, ancestral, documental e de pertencimento. 

Referência

GOMES, Núbia Pereira de Magalhães; PEREIRA, Edimilson de Almeida. Ardis da imagem: exclusão étnica e violência nos discursos da cultura brasileira. Belo Horizonte: Mazza Edições, Editora PUCMinas, 2018.