As disputas em torno das visibilidades/invisibilidades contemporâneas nos põem frente ao desafio de pensar as imagens pela ótica complexa da instabilidade e do conflito. Imagens podem gerar conflitos? Existem imagens que são estáveis? Se considerarmos que as imagens são marcadas pelo trânsito entre diferentes meios e pelo constante interagir com outras representações simbólicas, sejam estas textos ou mesmo outras imagens, consideraríamos difícil supor que hajam aquelas que sejam de fato estáveis. Por outro lado, há imagens que se replicam e são reafirmadas continuamente em narrativas que estabelecem visões de mundo com uma determinada constância e estabilidade, habilitando clichês, construindo estereótipos e determinando recortes sensíveis do mundo, visibilidades. Tais questões acionam um vasto campo de reflexões, que abrangem os regimes de verdade aos quais o visual esteve sempre relacionado, bem como o conflito ativo de narrativas que atuam sobre o imaginário social.

Não só como objetos de conhecimento, as imagens atuam e configuram modos de existência e suas formas sensíveis; escrevem, revelam e tensionam histórias; performam e autorizam discursos; apresentam e remodelam perspectivas estáveis. Do uso científico às apropriações estéticas, da exploração do corpo no século XX à vigilância mediada no século XXI, do regime de verossimilhança aos factóides, a cultura sedimentada nas/por imagens destina-se à revisão de saberes pluridisciplinares (históricos, antropológicos, filosóficos, educacionais, estéticos, artísticos, comunicacionais, dentre outros). Na fotografia, no cinema, nas redes digitais, nas mídias corporativas e alternativas, nas artes performativas, lugares ou discursos conhecidos como estáveis podem suscitar conflitos ao passo que sugerem iconoclasmos, contranarrativas, conhecimentos não-hegemônicos ou narrativas de desinvisibilização.

Este dossiê – Instabilidade e conflito das/nas imagens – tem o propósito de reunir textos que abordem as imagens, os fenômenos e as narrativas por elas desencadeados, com destaque para os aspectos conflituosos e instáveis que permeiam os saberes, as práticas e as experiências comunicacionais. Do fotojornalismo aos memes, das imagens institucionais às fotoperformances, das lives de Instagram às transmissões de imagens em redes nacionais, do cinema aos vídeos de YouTube, as manifestações imagéticas da atualidade assumem diferentes formas, semeiam imaginários e processos subjetivos, e são, com isso e em si próprias, acontecimentos. Nos interessa então discutir de que maneira as imagens tomam parte nos conflitos narrativos que atravessam as noções de realidade e de ficção, quer sejam elas pensadas como sintomas ou vistas como protagonistas em meio a estes processos.

Convidamos assim pesquisadoras/es ligadas/os às áreas da fotografia, do cinema, do jornalismo, das artes visuais, das mídias digitais, da antropologia cultural, da sociologia e áreas afins, que tenham reflexões ligadas a como as imagens atuam e se relacionam com as questões de representatividade, imaginário e visibilidade, a submeterem suas produções para esta presente edição.

Carolina Libério (UFMA), Elane Abreu (UFCA) e Jane Maciel (UFMA) – Editoras convidadas

Imagem da divulgação: “Atualização histórica em cima das imagens traumáticas de Debret”, gentilmente cedida pela artista Gê Viana
Submissões até dia 03 de março de 2020. A revista Logos (UERJ) possui Qualis B1 em Comunicação e Informação.

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