As romarias dão a Juazeiro do Norte uma experiência além-turismo, uma experiência que é cotidiana à cidade, mas não necessariamente acolhida pelos juazeirenses, que com frequência associam a presença de romeiros ao caos, multidão e à desordem. A experiência romeira não está entregue ao turismo de massa. Ela insiste tendo seus próprios arranjos, seus modos de chegada coletivos, dá corpo a estruturas hospedeiras simples, ocupa o espaço com movimentos particulares nas rotas da fé.

À revelia de quem desgosta, milhares de romeiros modificam a paisagem de Juazeiro do Norte em diversas ocasiões do ano, especialmente em fevereiro, setembro ou outubro, períodos das principais romarias. Identificamos grande parte deles pelas vestimentas, chapéus, modos de agrupamento, lugares que visitam e tipos de consumo. Esse olhar dedicado aos romeiros é mote da pesquisa de iniciação científica do professor Joubert Arrais, pesquisador do Limbo, e da bolsista Thaís Cândido, que compartilhou conosco, no encontro do dia 04 de junho,  suas impressões de juazeirense e leitora do texto “Juazeiro do Norte: tempo e espaço da romaria”, do livro “Madeira Matriz: cultura e memória”, de Gilmar de Carvalho.

O romeiro se sente em casa ou está em casa. Ele abstrai os princípios ordenadores de Juazeiro do Norte e faz prevalecer sua norma. Ele não precisa pedir licença para estar aqui, tampouco dizer obrigado quando a cidade é sua ou a casa do Padre Cícero, daí todos serem benvindos. As portas estão sempre abertas a todos que chegarem aqui. (CARVALHO, 1999, p.114).

 

Thaís pontuou as diferenças entre romeiro e turista, ancorada no pensamento provocado pelas ideias de Gilmar de Carvalho e, ao longo de sua fala, participantes do grupo destacaram experiências particulares com as romarias, principalmente sobre seu caráter visual e comunicativo. Transportes decorados, cores, chapéus, fitas, garrafas, ex-votos, imagens, roupas de penitentes, dentre outros, são elementos que compõem um “catálogo iconográfico das romarias”, como expressou a professora Jualiana Lotif, e que pode ser concretizado por meio de um projeto que organize registros em imagens e textos dos elementos visuais e materiais dos romeiros.

O caráter iconográfico dos artefatos romeiros comunica a relação particular que estabelecem com os princípios de sua fé. Esta fé subverte o cotidiano da cidade e é carregada de improvisos, remodelando roteiros prescritos por lógicas mais disciplinares. Ao observarmos algumas imagens de Thaís, produzidas em suas idas a campo, é evidente que objetos, espaços e fotografias se tornam narrativas afetivas das vidas romeiras, que deixam em Juazeiro do Norte rastros de seus ritos e trânsitos. São esses rastros que performam e persistem dando vida à cidade-casa de Padre Cícero.