Por Andressa Yare, Elane Abreu e Paulo Junior

Em contato com o designer e estudante de artes visuais da URCA, Filipe Alves, alguns tesouros caririenses vieram à tona. As inscrições rupestres do sítio arqueológico de Santa Fé, em Nova Olinda, estudadas por Filipe, revelam pinturas de tuiuiús como marcas da presença ancestral indígena no Cariri de 3100 a.C. Esta riqueza de dentro da caverna foi parar na universidade, na pesquisa, e com todo o sentido. Costumamos citar achados arqueológicos europeus ao passo que desconhecemos nosso território simbólico. A universidade precisa se encantar com as histórias locais recônditas.

A universidade é lugar de valorização dos estudos e palco de histórias pessoais como a de Filipe, nova-olindense prestes a defender seu TCC. Quando este lugar se encontra ameaçado por cortes orçamentários, sonhos estudantis e importantes descobertas têm seus horizontes cerceados. O Poeta Falcão, de Exu – PE, inspirado na situação que aflige a UFCA, escreveu um cordel repleto de palavras sábias sobre a relevância da educação pública e a esperança que dela irradia para quem mora no interior. Seus versos foram lidos no campus de Juazeiro do Norte e a partir deles lembramos a riqueza das visualidades pesquisadas por Filipe no seu curso de graduação, em instituição pública.

Conversar com Filipe foi um rompimento, rompeu barreiras temporais, voltamos no tempo, revivemos, ou melhor, descobrimos o passado. Um passado Kariri, passado de artes, de afeto, de encontros. Naquela tarde a UFCA não foi nosso único refúgio. O Centro de Artes da URCA, suas paredes, seus estudantes, professores, nos acolheram, tacitamente nos dissemos, em silêncio: estamos juntos.

O que aquelas pinturas queriam dizer? Quais significados podem definir as marcas do passado ancestral tão desconhecido que ainda faz brilhar os olhos de quem busca a ressignificação de sua cultura? Os povos Kariris ainda se fazem presentes, demarcam suas oralidades, que se deslocam nas matas verdes que trazem a vida à tona. Os tuiuiús que nos foram mostrados ganharam vida, eles passeiam pelas ruas centrais da região caririense e de Nova Olinda. Aquela história transbordou aos olhos de quem a contava, encheu o rio perene do olhar de quem ouvia. O local de fala, em sua teoria e prática, nunca esteve tão presente. Ali viramos correnteza à procura de um mar; os tuiuiús agora se dividiam entre Filipe e a caravana do Limbo.

“Portanto as federais, valorizam a cultura, todas as belas artes, como a literatura, capacita os profissionais, com uma boa lisura. Um país que não investe na sua educação, na cultura e na arte, não terá revolução, se evoluir é pro caos, não tem outra direção”, recita Falcão em sua poesia, uma escrita que faz encontro entre sertões, regiões e perspectivas. Assim, a busca do mar se torna constante. Afinal, o sertão era mar e, por isso, pode voltar a ser.

Nossa correnteza seguiu firme na procura deste mar. Um mar que é de luta, não de repouso. A UFCA foi este mar. A poesia de Falcão é o desejo de união, de resistência, de vivência. Na tarde de lançamento do cordel do poeta, a Universidade foi ainda mais plural, bela e aconchegante. Dissemos palavras fortes e doces. Em meio ao que se dizia, as crianças falavam, o poeta falava, a UFCA (re)existia. Porque em lugar de presença, não haverá ausência. Em lugar de sonhos, não haverá dissabor. Na terra do saber, não haverá silêncio. Tuiuiús e versos expandem territórios.