Quem é a menina-benigna que se estivesse viva já teria completado 90 anos? Imaginaríamos uma senhora idosa ou esses anos dizem mais sobre a permanência de uma imagem enquanto ícone da benignidade religiosa e cultural? Sabe-se que é uma imagem cultuada e significada pelas pessoas da cidade de Santana do Cariri. A sua história a faz uma imagem controversa, aberta a muitos debates e abordagens, como também um corpo sagrado, representado por muitas histórias reais e ficcionais.

O que intriga na imagem de Benigna? Por que seu nome evoca controvérsias? Por que suas imagens disputam e traduzem características que se manifestam na vestimenta, no tom da pele, no pote que carrega, no tipo do cabelo, no olhar, nos adornos que a envolvem? Essas questões movimentam o projeto de trabalho de conclusão de curso de Joedson Oliveira, estudante do curso de Jornalismo, integrante do Limbo.

Em discussão do seu trabalho, Joedson apresentou 8 imagens de Benigna, sendo uma delas o registro de uma escultura e as demais compreendidas como criações pictóricas de diversas origens. As imagens e seus repertórios estéticos impulsionaram o debate acerca do elo identitário de Benigna com discursos controversos como a Igreja e o feminismo, a representação icônica da personagem e da cidade de Santana do Cariri, a fuga e cooptação da “mártir da castidade” pelos ideários imagéticos massivos.

Sabe-se que Benigna se tornou mártir por ter se negado ao abuso sexual, enquanto, com seu pote, ia coletar água. A história que data de 1941 cristalizou a sua “bem querência” nas imagens que disputam traços para seu corpo. Ao olhar as imagens, passeamos pelas propostas representativas de cada uma. Elementos se mantêm, outros se dissipam, alguns são adicionados. Ora Benigna aparece em um campo/floresta que alude à estética do “kitsch”, ora vai para dentro do pote com flores, ora parece traduzir o retrato falado. Por vezes, seu rosto comunica alguma tensão, nada angelical. Estando no Cariri, é relevante pontuar a intenção de torná-la uma imagem-ícone da cidade na lógica representativa de Padre Cícero para Juazeiro do Norte. Benigna já possui romaria, já atrai olhares para a cidade, contudo, é uma imagem em processo, é disparadora/dissipadora, aproximando-se do pensamento cedido pela noção de dispositivo.

Na história controversa da imagem, o trabalho de Joedson busca construir um quadro de repertórios estético-visuais de Benigna, compreendendo seus discursos, narrativas e apropriações sociais na constituição de uma imagem-ícone. É uma possibilidade que ele mesmo construa, com seu trabalho, uma Benigna que não conhecemos, uma outra Benigna, desmontada em seus aspectos manifestos, ausentes e convergentes.